quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Parte 13 - O amor é cego mas sabe ler

De acordo com quem estuda a mente e a evolução humana, os seres humanos podem ser classificados e diferenciados a partir de 9 dinâmicas de personalidade, constituídas pelo equilíbrio dos princípios mental, emocional e físico. Cada dinâmica é absolutamente coerente e se distingue das demais por seu estilo particular de combinar o princípio central e suas dimensões na personalidade.

Super legal mas depois que conheci meu amigo Pânico, simplifiquei um pouco essa estória. Passei a classificar o mundo entre os aceitáveis e os sem noção.

Minha mãe, aceitável. Thalita do BBB, sem noção. Diogo Mainardi, aceitável. Fernanda Young, sem noção. Minha irmã, aceitável. Minha cumadre, que batizou minha primeira filha, totalmente sem noção.

Meu marido, no entanto, se mantém incógnito.

Todo dia ele me acorda com uma xícara de café bem quente e um pão com manteiga. Mas sem prato, sem pires ou guardanapo. Bandeja, nem pensar. Já é pedir demais. “Fica quieta que não cai farelo”, ele diz.

Entre as coisas que ele não aprendeu quando era pequeno e provavelmente, vai morrer sem aprender, estão, amarrar o sapato – vive pisando no cadarço; encher a mamadeira de suco – não consegue acertar o gargalo; comer sem babar na gravata e, em especial, comer arroz sem deixar um grãozinho pendurado no queixo.

"Isso é sério?”. "Sério o quê?". E eu sigo amando o imbecil.

Bom, a última dele, vocês vão ter que concordar, foi indefensável.

Esta semana não foi muito boa para nós, tive brigas horríveis com Pânico, resolvi beber e afogá-lo, depois me arrependi, fizemos as pazes, brigamos de novo e por fim, me arrependi por ter me arrependido. Vendo o meu sofrimento, o bem amado resolveu interferir.

Posso fazer alguma coisa?”
“Me ajude a dar um final cut neste Pânico dos infernos”, retruquei.
“Tá”. E não falamos mais no assunto.

No outro dia pela manhã, lá vem ele com a xícara pingando e o pão, agora sem manteiga. “Toma, gostosa.” E o show continuou. “Alcança uma fralda aqui pra mim, ô tesão.” “Deixa que eu levo as crianças na escola, tá boazuda.”

"Ôu, não me assusta, não", gritei. "Tá cedo para eu ficar viúva."

Mas na mesa da sala, esquecida entre o notebook e a mamadeira de leite, estava a culpada, duas folhas impressas, bem dobradinhas. Lia-se “Auto-estima: dicas e terapias para uma vida melhor”.

Pelo menos ele sabe ler.

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