sábado, 2 de fevereiro de 2008

Parte 9 - Sobre lobos, ovelhas e casamentos que não acabam

Uma coisa é certa, junte 3 crianças e reze para não chegar a hora da brincadeira "vamos ver quem grita mais alto". É inevitável. Toda criança gosta de gritar. Na minha casa é uma maldição.

Eu tolero. Pânico odeia.

Na última visita à Vovó, juntei todo mundo e contei a estória do lobo, das ovelhas e da importância de não mentir. E principalmente não gritar. "Quando estiverem em perigo de verdade, vamos achar que estão brincando de gritar!". Deu certo por 15 minutos. A mais velha resolveu brincar de lobo, que caça as ovelinhas...e a gritaria recomeçou.

Mas a dupla lobo e ovelha me fez lembrar de uma outra estória, esta realmente importante. Meu marido é um ótimo pai, um marido maravilhoso, mas tem dificuldade para se entender com Pânico - eles não se batem, se odeiam, e morrem de ciúme um do outro. Talvez pelo fato de eu ser 17 anos mais nova, não sei. O fato é que eles não conseguem dividir o mesmo lugar.

Bom, a estória começa assim. Era noite, véspera de uma reunião importante para meu marido. Ele estava tenso e refazendo as lâminas de sua apresentação. Como jornalista, e totalmente ignorante em assuntos de economia, sempre ofereço ajuda na revisão de texto. Mas naquela noite, também estava tensa, e de guarda. Pânico havia aparecido mais cedo e eu estava monitorando seus passos.

Cheiro de pólvora no ar. E suor. Então, mirei. "Está tudo bem aí?". E acertei no que me esforçava para não ver. "Não, acho que não estou me sentindo bem." Então, somos 2, pensei. E abra-te Sésamo, éramos 3. Ao desviar a atenção, deixei Pânico entrar.

Mas aquela não era uma noite para brincadeiras. Naquele notebook estava o nosso futuro e a segurança de nossa família. E meu marido, pobre mortal, entregou-me nos braços de seu rival. "Hoje não, por favor. Não faça isso comigo. Não queira disputar atenção. Cresça e resolva sozinha o seu problema."

Muito cruel.

Então ouvi Pânico sussurar, "Vamos, ovelha". Em 20 minutos estávamos no hospital. E em outros 40 em casa outra vez.

Viver com Pânico é viver entre a cruz e a espada.

Depois deste dia, criamos códigos. Quando Pânico está se aproximando, digo "Vamos mudar de assunto". Quando Pânico está comigo, digo "Não quero falar disso agora". Quando meu marido está com dor de cabeça, ou não se sente bem, ele diz "Estou apenas cansado. Nada demais".

Hoje, 2 de feveiro, dia de Iemanjá é também meu aniversário de casamento. Minhas filhas fizeram o café da manhã. De tarde, vimos um filme pela metade. Pedi para mudarmos de assunto. Deixei as crianças na Vovó. Saí sem dar tchau. Me arrependi. Voltei e beijei muito as duas, muito muito. No carro, de volta para casa, meu marido pediu para escolher uma música especial. Disse que não queria falar de músicas especiais. Colocamos no random.

Hoje, 2 de fevereiro, Pânico apareceu mas ficou bem pouquinho. Talvez por causa da Rainha do Mar, talvez por causa de nossos códigos, mas tudo deu certo. Sem ovelhas, sem lobos. Como qualquer dia normal. Marido, amo muito você. E acredite, vai dar tudo certo.

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