Era inverno, junho ou julho, não tenho bem certeza. Mas
enfrentava a minha milésima crise de amigdalite –
as mulheres da minha família sofrem na pele o ônus
de não dizer (sempre) o que pensam. Febre, tosse e uma
petit discussão à mesa do almoço. “Quem mantém o
bom humor com o nariz entupido?”.
De volta ao quarto senti a perna cambalear. Fraqueza,
na certa. Mas aquele não era um filme novo, no
fundo, sabia que seria uma revanche. Ao deitar,
senti o ar faltar, comecei a me sentir tonta, enjoada, e
como num golpe direto senti o coração disparar.
Era o segundo sinal. Minha fé e minha crença em
convenções caíram por terra – estava desmascarada
a farsa. Aquela era a minha hora.
Devo ter feito cara de enterro porque não
precisei insistir para ser levada ao hospital.
O banco recostado e as janelas bem abertas deixavam
apenas o motorista mais calmo porque, naquela
altura, não sentia mais as pernas. E o caos se
instalou, devastador. Logo os braços também
ficaram dormentes, o que seguiu com a língua
e o nariz. Fui tirada do carro paralisada, levada
ao pronto-socorro numa cadeira de rodas.Sentada em frente a minha cama, pude ver
pela cortina uma senhora com as mãos entrelaçadas
em um terço – uma chance à redenção. Chamei-a
e perguntei se poderia rezar um pouco por mim.
Como uma serva, sem pronunciar uma só palavra,
segurou firme a minha mão.
E assim conheci a verdadeira face daquele
meu algoz – senti como nunca antes medo mais
sombrio, o desespero mais feroz e a certeza
inquestionável que não haveria tempo para cura.
E assim, se apresentou: “Acalme-se. Sou apenas Pânico!”.
E, como em respeito a uma entidade, aceitei a condição -
e nunca mais fui a mesma!
domingo, 13 de janeiro de 2008
Parte 3 - Frente a frente com o esquecido
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